Ninguém duvida: ela é a atração mais famosa da pequena Kutná Hora e volta e meia aparece em algum jornal ou programa de TV ao redor do mundo, atraindo ainda mais visitantes à cidade, a 80 km de Praga.
Ainda que esteja longe de ser o ponto turístico local mais bonito, o Ossuário de Sedlec – esse é o nome verdadeiro da tal igreja totalmente decorada com ossos humanos e que na realidade não é uma igreja, mas sim o subsolo de uma – merece a fama pela beleza da obra, pelo inusitado e pela trabalheira que deve ter dado ao seu criador.
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Mas a história deste lugar vem bem antes da decoração.
Tudo começou lá pelos anos 1100, numa época em que Kutná Hora nem existia, quando monges cistercienses (uma ramo reformista da Igreja Católica) fincaram seus pés na então cidade de Sedlec.
Aos poucos eles foram ganhando poder e respeito nos arredores, começaram a construir prédios lindos e receberam o comando de outras paróquias, até que passaram a ser responsáveis por todos os serviços religiosos da região.
Um destes serviços, é claro, era o enterro dos mortos.
Isso não seria um problema, afinal não havia muita gente morando por ali e o Cemitério de Todos os Santos, construído na metade dos anos 1200, dava conta do recado junto com os outros.
O que complicou foi um ato do abade do mosteiro local: na volta de uma viagem à Jerusalém, ele trouxe (ou disse que trouxe, vá saber) um pouco de terra da Colina do Calvário, onde Jesus foi crucificado, e espalhou pelo terreno.
A partir daquele momento, o Cemitério de Todos os Santos se tornou um local sagrado para os fiéis, que exigiram que seus enterros acontecessem nele. Para piorar, a notícia correu o mundo e pessoas da Polônia, da Bavária e até da Bélgica pediram o mesmo.
Quando a capela atual foi erguida, no início dos anos 1300, dezenas de milhares de pessoas já estavam enterradas naquele chão (trinta mil apenas durante um período de peste). Somando isso aos mortos das guerras que vieram depois, não demorou para que o ossuário construído no andar inferior da capela precisasse ser usado.
Não me pergunte o que aconteceu nos trezentos anos que se seguiram, porque eu não achei essa informação em fontes oficiais ou confiáveis. O que eu sei é que, em 1511, um monge começou a brincar de decorador com os ossos dos antigos moradores do cemitério e que uma nova redecoração do ambiente, 150 anos mais tarde, acabou fazendo o teto despencar, exigindo uma reforma geral.
Outra reforma geral aconteceu no início dos anos 1700, quando todo o prédio ganhou a aparência arquitetônica atual, mantendo a ideia da decoração. Mas as obras que vemos hoje foram criadas mais tarde, em 1870, pelo carpinteiro e artesão tcheco František Rint – que deixou sua assinatura numa das paredes do salão, escrita com ossos, é claro.
František, junto com dois ajudantes, usou os restos de mais de 40 mil pessoas, todos devidamente lavados e desinfetados. Com este material, criou um lustre gigantesco, um brasão da família que comprou o terreno no fim do século 18, um ostensório e muitíssimos outros objetos decorativos concretos e abstratos.
Dizem que a intenção foi lembrar as pessoas dos limites da existência e de que é necessário respeitar a vida e as responsabilidades humanas diante de Deus. Muitos visitantes devem sentir isso, outros talvez não. Mas a maioria certamente acha que a obra ficou muito mais linda do que assustadora e, assim, ajuda a manter a fama da “igreja de ossos” ao redor do mundo.
Ossuário de Sedlec – Igreja de Ossos
(Sedlecká kostnice)
Rua Zamecká, esquina com a rua Starosedlecká – Veja como chegar
Ingressos (Ossuário de Sedlec + Catedral da Assunção): 160 CZK (adulto)
Dias e horários:
Março-Outubro: das 9h às 18h
Fevereiro-Novembro: das 10h às 16h (terça a domingo)
Não está aberto no dia 24 de dezembro.
Pretendo visitar Praga em Setembro desse ano e estou acompanhando as suas dicas.
Que bom, Ersilia! Se precisar de qualquer auxílio em Praga, me avise. Você já conhece o meu serviço Amigo em Praga? Clique aqui para ver.